quarta-feira, 6 de julho de 2011

A mídia além do épico: a imagem do homem na lua.

Daiane Silveira Rossi*

Olhar para essa imagem remete-nos a pensar elementos que vão além das famosas frases: “Será isso mesmo verdade?” “Até onde o homem vai chegar?”. Acredito que poderíamos refleti-las de outra maneira: “O que motiva o homem a chegar tão longe?” “Por que isso teve tanta importância?”
A partir dessas reflexões, não podemos deixa de situar esse acontecimento em seu contexto mundial: a Guerra Fria. Um período de constantes confrontos entre Estados Unidos e União Soviética, que se estendeu o término da II Guerra Mundial até a queda da URSS. Vale lembrar que aqui estarei usando o termo guerra conforme a concepção de Thomas Hobes: “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar, mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é suficientemente conhecida”. Por mais que ambos nunca tenham se confrontado diretamente, o medo de uma destruição nuclear global era eminente na população. Sentimento este, que as superpotências usavam a seu favor nas suas propagandas, com o intuito de proteção mundial e defesa contra o inimigo interno. Também fazia parte dessas “batalhas”, as disputas geopolíticas, econômicas, armamentistas e, especialmente, tecnológicas.
Voltemo-nos novamente a foto, vamos tentar olhar o que há por trás da sua divulgação. Nos EUA, pós II Guerra Mundial, as mídias passaram a ocupar um espaço enorme frente à população. Destaca-se o advento das firmas de material radiofônico, em 1945 os americanos tinham em torno de uma dúzia de estações disponíveis para cerca de 10 mil receptores, enquanto que em 1960, haviam 580 estações, para 34,7 milhões de receptores (ZENHA, 2005). Ou seja, o alcance televisivo, principalmente pós década de 1960, era cada vez maior e se expandia, gradualmente, ao mundo todo. Por conseguinte, tanto agia como um instrumento de divulgação das manifestações sociais do período, quanto era usada como aparelho de propaganda do Estado. “A simples cobertura dos acontecimentos pelas emissoras de televisão não apenas transmitia a informação sobre um determinado fato, mas também agia sobre o que estava sendo divulgado” (ZENHA, 2005, p. 234).
Dessa forma, podemos analisar a divulgação da chegada do homem à lua em julho de 1969. Os EUA estavam em uma situação delicada devido às perdas no Vietnã, às manifestações anti-racismo, às ditaduras na América Latina, entre outros. Quem se importaria se os russos tinham enviado a cadela Laika ao espaço, ou se os norte-americanos estavam pisando na lua; com tudo isso acontecendo? Pois aí que nos enganamos, pois a máquina propagandística foi tão manipuladora, a televisão teve tanta importância, que o mundo parou para assistir àquela cena. Era o triunfo dos EUA. Além de amenizar sua imagem, conturbada pelo Vietnã, era uma mostra do quão mais poderosos eram, se comparados aos soviéticos.
Há uma cena no filme “O que é isso companheiro?” (Brasil, 1997), que mostra exatamente isso, num contexto de agitação política, pessoas desaparecendo no Brasil, e grande parte da população para em frente à televisão para ver o homem na lua. Alienação? Talvez. Mas isso nos mostra o quanto os meios de comunicação influem no pensamento e nas atitudes das pessoas.


 
REFERÊNCIAS:
HOBSBAWM, Eric. Guerra Fria. In: HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
ZENHA, Celeste. Mídia e informação no cotidiano contemporâneo. In: REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge. O século XX. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2005.


*Acadêmica do V semestre do curso de História, do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA).

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